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Daniel Cariello

Distância que aproxima abril 12, 2014

Crônica publicada na revista Veja Brasília, sobre Chéri à Paris e o selo Longe.

Distância que aproxima

Em 2007, fui morar em Paris. Até então, meu conhecimento do idioma local se limitava a croissant, uh la la e quatre-vingt, que significa “oitenta” e eu conhecia porque achava muito estranho eles dizerem “quatro vinte”, fazendo conta para falar um número. O início da vida em outro país foi uma experiência tão cheia de novidades impactantes que decidi registrar parte delas no site Chéri à Paris, no qual publicava semanalmente crônicas sobre as desventuras de um brasileiro na terra do fromage.

A literatura serve para isso também. Afinal, a um oceano de distância, precisava dar um jeito de compartilhar a traumática descoberta de que não existe pão francês na França; dividir a enxaqueca que senti quando desci a cabeça na boca do estômago de um cidadão que me provocava com uma camiseta do Zidane; ou comungar as sugestões de temas para as inúmeras passeatas que acontecem quase diariamente em Paris. A ideia inicial era alcançar família e amigos, mas logo as crônicas passaram a ser republicadas por veículos como Le Monde Diplomatique, Magazine Brazuca e UOL, entre outros.

No ano passado, incitado por um velho camarada, decidi que era a hora de realizar o antigo projeto de transformar aqueles textos em livro. E propus um desafio a ele e a outras duas amigas: lançarmos quatro obras, ao mesmo tempo, e criarmos, juntos, um selo literário. Assim nasceu o Longe, uma iniciativa de autopublicação de escritores que adoram contar histórias, mas não têm a menor vontade de se embrenhar no mercado editorial tradicional.

Três dos livros do Longe estão disputando os prêmios da II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que ocorre nesta semana aqui mesmo, em Brasília. O Chéri à Paris é um deles. Fui olhar a lista de quem está concorrendo comigo e me vi ao lado de Luis Fernando Verissimo, Antonio Prata, Ignácio de Loyola Brandão e outros tantos que me influenciaram e, por isso mesmo, foram também responsáveis por eu estar ali. Dá um frio de inverno europeu na barriga, com probabilidade de nevasca.

Se, em 2012, deixei Paris e troquei a Torre Eiffel pela Torre de TV, em mais um processo de muitas (re)descobertas, ao menos uma coisa não mudou: continuo adorando retratar em crônicas as peculiaridades da cidade onde moro, o que faço quinzenalmente neste espaço. É claro que de vez em quando alguém fica intrigado com a minha volta e quer saber os motivos. A resposta vem de bate-pronto: “Para matar a saudade dos amigos. E para comer pão francês, bien sûr!”.

 

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Daniel Cariello

Daniel Cariello nasceu em Brasília, em 1974. Em 2007, mudou-se para Paris, onde foi editor-chefe da revista bilíngue Brazuca, sobre cultura brasileira. É formado em publicidade pela Universidade de Brasília e mestre em jornalismo cultural pela Université de Paris III - Sorbonne Nouvelle. Já foi office-boy, guitarrista e tecladista em banda de rock, cronista, jornalista e publicitário. Queria ser reconhecido pela música, mas ganhou prêmios nacionais e internacionais escrevendo para revistas e agências de propaganda. Em junho de 2013, tornou-se cronista da Veja Brasília. Seus textos podem ser encontrados quinzenalmente na última página da revista.

Distância que aproxima abril 12, 2014

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