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Daniel Cariello

Diário do Centro do Mundo: “Por que esqueci as editoras e me autopubliquei” maio 3, 2014

O site Diário do Centro do Mundo publicou um texto de Daniel Cariello, onde o autor conta porque escolheu autopublicar-se. E quais as vantagens de buscar um caminho alternativo ao mercado editorial tradicional.

Leia abaixo ou no site.

Por que esqueci as editoras e me autopubliquei

Ano passado, lancei meu primeiro livro, “Chéri à Paris”, com algumas das crônicas que escrevi semanalmente durante os cinco anos que vivi na capital francesa. A obra não saiu por nenhuma editora, não está à venda em nenhuma grande rede de livrarias e não foi apadrinhada por nenhum crítico famoso. No entanto, tornou-se um relativo sucesso de vendas, com quase 2 mil cópias vendidas desde seu lançamento, em dezembro.

Digo relativo porque perto do Paulo Coelho isso não é nada. Mas trata-se de um feito considerável para um autor independente e nem um pouco desprezível mesmo para o mercado editorial tradicional, com sua grande rede de distribuição, seus espaços pagos em gôndolas de livrarias e suas campanhas publicitárias.

E é muito mais do que eu sonhava quando resolvi me autopublicar, quando minhas intenções mais ousadas eram apenas pagar os custos que tive com revisão, diagramação, ilustração e impressão do livro.

É verdade que a autopublicação não era minha primeira escolha, mas tenho certeza de que foi a melhor. Durante alguns anos, bati em portas de editoras, enviei originais, fiz ligações internacionais e cheguei até a negociar detalhes de contratos, mas, a coisa sempre dava pra trás em um momento ou outro.

Cansado dessa via crucis, aposentei o projeto do livro, até que fui atiçado pelo amigo e escritor Yury Hermuche, que me incentivou a retomá-lo e lançá-lo, mesmo sem estrutura alguma apoiando. Devolvi o desafio e o convidei a fazermos um lançamento juntos. Em seguida, chamei as escritoras Carolina Nogueira e Gabriela Goulart Mora a participarem da empreitada com a gente. Em comum, além da amizade, a temática das publicações: distâncias, estranhamentos e o sentimento de não pertencer a lugar algum. Dessa reunião de autores em torno de um mesmo conceito nasceu o selo Longe, que lançou as 4 obras em uma noite inesquecível, no Cine Brasília, com mil pessoas presentes e 700 livros vendidos. Setecentos livros! Só aí, as tiragens já foram pagas.

O passo seguinte

Depois do lançamento, estruturamos melhor o trabalho do selo. Fizemos um site conjunto e outros individuais e começamos a divulgação dos nossos escritos e ideias, enviando-os a revistas, jornais, sites, TVs, rádios e a todo mundo que queríamos atingir. A resposta veio rápida: inúmeros veículos deram espaço e destaque à iniciativa.

Menos de um mês mais tarde, o e-book de “Chéri à Paris”, que eu mesmo preparei e publiquei, atingia pela primeira vez o primeiro lugar em vendas na loja Amazon. Um autor que ninguém conhecia lança um livro do qual poucos ouviram falar e ele torna-se o e-book mais vendido de todo o país. Surpreso, imaginei tratar-se de um golpe de sorte, mas o livro voltou a ser o número um algumas semanas mais tarde. Acho que só então entendi se tratar de um feito importante. E que podia indicar um caminho a ser melhor observado pelo selo e por outros escritores independentes.

Outros feitos do Longe incluem o fato de o livro “A Rua de Todo Mundo” ter sido selecionado para ser lançado na II Bienal do Livro e da Leitura de Brasília. De “Anti-heróis e Aspirinas” ter tido mais de 110 mil downloads do e-book em inglês e da trilha sonora composta para a obra. De “Depois das Monções” também ter figurado entre os mais vendidos da Amazon. E de o “Chéri à Paris” estar sendo adotado como material didático em diversas escolas públicas e de línguas de Brasília.

“Chéri à Paris” e o selo Longe não são os primeiros a apostarem na autopublicação. Só pra ilustrar (e sem nenhuma ambição de comparação), vale dizer que Edgar Allan Poe, James Joyce e Charles Dickens também trilharam essa rota em algum momento de suas carreiras. O que talvez possamos mostrar é que vale a pena soprar a poeira dos seus originais – ou do HD onde eles estão guardados – e publicá-los sem medo. Se não for impresso, que seja em e-book. Se não for pago, que seja gratuito.

Trabalho em dobro. Recompensa em triplo

É claro que se autopublicar dá muito mais trabalho do que o caminho tradicional, via editora. Eu mesmo cuido de todas as etapas do processo de divulgação e vendas da minha obra. Faço assessoria de imprensa, publico no site, divulgo em redes sociais, recebo pagamentos e envio os exemplares pelo correio. Mas, como dizemos no manifesto disponível no nosso site, “acreditamos nas nossas ideias o suficiente para corrermos o risco de conviver por um tempo com caixas e mais caixas de papelão espalhadas pelo corredor de casa”.

Todo esse esforço pode ser grande, mas não é nada perto da realização de ter em mãos uma obra que é exatamente a que eu sempre quis lançar, com todos os defeitos e qualidades que possa ter. Da seleção de textos à capa, tudo foi decidido por mim mesmo, em um processo que seria impossível se eu fizesse parte de uma editora.

 

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Diário do Centro do Mundo: “Por que esqueci as editoras e me autopubliquei”

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Daniel Cariello

Daniel Cariello nasceu em Brasília, em 1974. Em 2007, mudou-se para Paris, onde foi editor-chefe da revista bilíngue Brazuca, sobre cultura brasileira. É formado em publicidade pela Universidade de Brasília e mestre em jornalismo cultural pela Université de Paris III - Sorbonne Nouvelle. Já foi office-boy, guitarrista e tecladista em banda de rock, cronista, jornalista e publicitário. Queria ser reconhecido pela música, mas ganhou prêmios nacionais e internacionais escrevendo para revistas e agências de propaganda. Em junho de 2013, tornou-se cronista da Veja Brasília. Seus textos podem ser encontrados quinzenalmente na última página da revista.

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