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Daniel Cariello

Entrevista para Livros que Vendem maio 22, 2014

Confiram a entrevista de Daniel Cariello para o site e a fanpage Livros que Vendem, abaixo ou no próprio site.

Existem diversos métodos para contar histórias, como a Jornada do Herói, começar do fim, fazer mindmaps, brainstorms, entre outros. Que método você usa ou não usa nenhum, apenas senta para escrever e deixa fluir, enfim, como você planeja seus livros antes de escreve-los?

Não tenho método algum. Normalmente escrevo crônicas, que são histórias curtas, com tramas geralmente simplificadas. Na maioria das vezes, parto de um insight e deixo a história me levar. Também pode acontecer de já saber qual será o fim, mas esse não é o meu processo normal. Gosto quando um final me surpreende, quando chego em algum lugar que não esperava chegar. Esses são meus textos preferidos.

No momento, estou trabalhando em um romance, uma história que criei há alguns anos e peguei agora para desenvolver. Mesmo já tendo traçado algumas linhas gerais, na hora de escrever algumas delas estão sendo deixadas de lado. Acho que é um processo natural a história ir se modificando à medida que é escrita. É interessante ver os personagens ganharem ou perderem importância de acordo com o desenvolvimento da trama. No meu caso, isso não dá pra prever, sou muito caótico para conseguir organizar previamente uma narrativa que vai se desenrolar por muitas e muitas páginas.

Como é sua rotina de escritor, o seu dia a dia com o ato de escrever e reescrever? Como se disciplina a escrever?

O Verissimo disse uma vez que sua musa é o prazo. Eu sou do time dele. Escrevo para veículos diversos (sou cronista da Veja Brasília e faço artigos para sites e jornais) e foram raras as vezes que terminei um texto com antecedência. Quando acontece, acabo achando que há algo errado e, não raro, abandono-o e começo um completamente novo.

Outro motivo que me leva a escrever é quando uma ideia fixa na minha cabeça, algo que vi ou vivi ou me contaram. Se estiver na rua, anoto a ideia em poucas linhas, em um arquivo do Google Docs, que posso acessar depois de qualquer computador. Se estiver em casa ou no trabalho, sento e escrevo. Esses textos são os que saem mais facilmente, normalmente estão prontos em poucos minutos.

No entanto, há outros que são trabalhosos. É como esculpir uma pedra bruta. Você sabe que dali pode sair algo bonito, mas é preciso atenção e cuidado. Tem que escolher onde cortar, onde polir. Se fizer um movimento muito abrupto, o texto pode se perder. Aí, a solução é jogar fora e iniciar outro. E se há algo do qual não tenho a menor pena é de jogar um texto fora. Digo sempre que a autocrítica afiada é uma grande aliada do escritor. Não pode haver autoindulgência, do contrário há grande risco de o texto não querer dizer nada para ninguém além do próprio escritor.

Você já tinha submetido livros para editoras antes? Como você descobriu a autopublicação?

Sim. O meu livro Chéri à Paris é o resultado de um site que comecei logo que me mudei para Paris, onde morei 5 anos. Semanalmente, publicava uma crônica nova. Nesse tempo, foram quase 300. Os textos começaram a circular (foram publicados em veículos como Le Monde Diplomatique, Magazine Brazuca, UOL e outros) e não demorou eu ser contatado por uma editora, interessada em publicá-los. Logo acertamos um contrato, que me foi enviado a Paris. Assinei e enviei de volta, mas nunca mais obtive resposta. Tentei falar com a responsável algumas vezes, sempre sem sucesso. Nunca entendi direito o que aconteceu.

Depois, procurei editoras por conta própria. Várias demonstravam interesse, mas sempre desistiam na hora H, por motivos diversos. Abandonei o projeto do livro, que só retomei ano passado, quando um amigo me incentivou a lançar uma publicação. Devolvi o desafio e o convidei a lançarmos livros juntos. Incitamos mais duas amigas escritoras e criamos o Selo Longe, que tem por bandeira a autopublicação.

A autopublicação te libera da persistência e da “sorte” de ser escolhido por uma editora, mas exige que você invista no próprio marketing e na tecnologia. Como você promove seus livros?

Hoje, há muitas possibilidades de se divulgar obras e ideias sem precisar gastar muito. E grande parte delas passa pela internet, com todas as ferramentas que ela oferece. As redes sociais são uma excelente maneira de falar com muita gente ao mesmo tempo e a custo zero. Um post bem feito pode gerar divulgação e vendas. É preciso saber usar esses caminhos.

Eu criei um site para o meu livro, que é onde o possível leitor vai encontrar informações, resenhas, links para venda das versões impressa e digital e tudo o que for relevante em relação à obra. O Longe também possui um site do selo, que divulga as publicações que lançamos até agora. Além disso, possui uma fanpage no Facebook e um perfil no Twitter. Com isso, aliado a um trabalho persistente de assessoria de imprensa, feito por nós mesmos (somos todos jornalistas), temos alcançado excelentes resultados, com diversas matérias falando de nós em veículos de todo o país.

Um outro aspecto que acho fundamental para escritores autopublicados é pensar em um ebook. Ele cumpre o papel de tornar sua obra acessível a qualquer pessoa, em qualquer momento. Se há dificuldades de logística para publicações físicas, elas não existem no mundo digital. Eu mesmo formatei meu ebook e o publiquei na Amazon. E me supreendi quando ele tornou-se duas vezes o mais vendido do site, o que estava longe dos meus sonhos mais ambiciosos, quando o lancei.

É claro que o caminho da autopublicação é mais difícil para o autor, pois exige que ele se esforce em diversas outras áreas, além da escritura, como edição, acompanhamento na gráfica, estocagem, divulgação, distribuição e vendas. Mas é recompensador. Não o trocaria por um contrato com uma editora.

Esse pensamento está muito bem explicado no manifesto publicado no site do Longe: “Somos nós que pagamos pela impressão, somos nós que nos encarregamos da distribuição dos nossos livros (…) Mas acreditamos nas nossas ideias o suficiente para corrermos o risco de conviver por um tempo com caixas e mais caixas de papelão espalhadas pelo corredor de casa”.

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Daniel Cariello

Daniel Cariello nasceu em Brasília, em 1974. Em 2007, mudou-se para Paris, onde foi editor-chefe da revista bilíngue Brazuca, sobre cultura brasileira. É formado em publicidade pela Universidade de Brasília e mestre em jornalismo cultural pela Université de Paris III - Sorbonne Nouvelle. Já foi office-boy, guitarrista e tecladista em banda de rock, cronista, jornalista e publicitário. Queria ser reconhecido pela música, mas ganhou prêmios nacionais e internacionais escrevendo para revistas e agências de propaganda. Em junho de 2013, tornou-se cronista da Veja Brasília. Seus textos podem ser encontrados quinzenalmente na última página da revista.

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