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Daniel Cariello

Convite – Lançamento da 2a edição de Chéri à Paris abril 7, 2017

Vem aí a 2a edição de Chéri à Paris, que será lançada na Maison de France, no Rio de Janeiro, dia 26 de abril. Agora o livro tem prefácio (leia abaixo) de Jean-Luc Allouche, ex-editor-chefe do jornal Libération e tradutor do árabe e do hebraico. Nos vemos lá!

Chéri - Convite lançamento

Prefácio

De acordo com Claude Lévi-Strauss, o Brasil deve seu nome à “madeira de brasa”, matéria-prima muito cobiçada na época do descobrimento das Américas… Em suma, esse país foi imediatamente marcado pelo clichê: país ardente, seja por causa de seu clima ou de seus habitantes. Os brasileiros, é notório, são de um temperamento caloroso, entregando-se às vezes a alguns excessos (o espetáculo dos torcedores verde-amarelos é um dos mais alegres do mundo; sem falar dos carnavais e das escolas de samba; e do pipoco das pistolas nas favelas).

Assumo, permaneço no reino do mais absoluto clichê quando o assunto é o Brasil, onde jamais pus os pés. E não sei se minha prosa chegará aos olhos de algum patrulheiro desse país, mas espero, como assegura Lévi-Strauss, que ainda haja, “no fundo de todo funcionário brasileiro, um anarquista cochilando, mantido vivo por esses restos de Voltaire e de Anatole France que, mesmo no fundo do sertão, continuavam suspensos na cultura nacional*”.

Como tantos que foram crianças nos anos 50, vibrei com as façanhas em preto e branco de Pelé. Mais tarde, amei, na ofuscante miríade de jogadores ouro e verde, Garrincha e, acima de tudo, Sócrates; detestei Romário e Ronaldo (“E um, e dois, a gente sabe como continua…**”) e vi debutar Ronaldinho na França, em 4 de agosto de 2001, no estádio Abbé-Deschamps (1×1), onde apreciei seus rebolados de dançarina do ventre.

Passemos rapidamente por Orfeu Negro e suas langorosas serenatas, pela capoeira adaptada ao gosto francês por Bernard Lavilliers, pelos poucos escritores brasileiros que li, Clarice Lispector ou Jorge Amado, e que não li, Paulo Coelho. Pela bossa nova, que encantou minha adolescência. E, como bom chauvinista, o “Ordem e Progresso” de Auguste Comte na bandeira do Brasil adula minha vaidade nacional.

É mais ou menos isso.

Invertamos os olhares. À semelhança de Usbek de Cartas Persas, Daniel veste o traje exótico (“sunga de praia”?) do visitante estrangeiro para nos descrever a França. E suas histórias são divertidas e dão a pensar: “Gisele Bündchen, ela não é alemã? O pão francês do Brasil não existe na França? Por que os porteiros desapareceram? O que significam essas siglas vistas nas manifestações, especialidade francesa desde a Revolução: MMMCrô, BoF!, MaCaCa, Paquetô? Por que é preciso fazer biquinho para falar francês? Por que nossos japoneses são chineses e nossos chineses, vietnamitas?”. Pepita desses contos: a curta autobiografia do autor sob a perspectiva da história francesa, “A França em torno do umbigo”.

*
Daniel Cariello, conheci-o no meio de vinte e poucos alunos de mestrado em comunicação, que eu preparava para as delícias do desemprego nessa disciplina dinossaura: o jornalismo. Todos mais ou menos interessados. Todos mais ou menos motivados. Todos mais ou menos resignados. Salvo um, Daniel. (E um outro, também sul-americano, mas da Colômbia). Verdade que Daniel possuía certa experiência no jornalismo mas, enfim, seu entusiasmo, seu humor e, sobretudo, seu apetite em dominar o francês me impressionavam. Seus textos se diferenciavam muitas vezes por uma fantasia um pouco surrealista, que encontramos em suas histórias.

Graças a Daniel, tenho a sensação de que não perdi totalmente meu tempo. E que, ao menos, o conformismo não o ameaça.

Bem-vindo ao país de Voltaire e de Anatole France.

Jean-Luc Allouche
Antigo editor-chefe do jornal Libération
e ex-professor de jornalismo

*. Tristes Trópicos, Editora Anhembi Limitada, 1957, p. 25. Não se sabe se essa observação, válida na época das viagens do antropólogo, ainda é pertinente. Está longe de ser na França.

**. Referência ao grito dos torcedores franceses após a final da Copa do Mundo de 1998, “et un, et deux, et trois – zéro” (“e um, e dois, e três a zero”).

 

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Convite – Lançamento da 2a edição de Chéri à Paris

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Daniel Cariello

Daniel Cariello nasceu em Brasília, em 1974. Em 2007, mudou-se para Paris, onde foi editor-chefe da revista bilíngue Brazuca, sobre cultura brasileira. É formado em publicidade pela Universidade de Brasília e mestre em jornalismo cultural pela Université de Paris III - Sorbonne Nouvelle. Já foi office-boy, guitarrista e tecladista em banda de rock, cronista, jornalista e publicitário. Queria ser reconhecido pela música, mas ganhou prêmios nacionais e internacionais escrevendo para revistas e agências de propaganda. Em junho de 2013, tornou-se cronista da Veja Brasília. Seus textos podem ser encontrados quinzenalmente na última página da revista.

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